terça-feira, 27 de maio de 2014

Ironman Brasil 2014 - Tuca Baptista

Realizado, talvez esta seja a palavra mais precisa. Após meses (vinte e quatro) de treinamentos intermináveis, sem parar de pensar um único dia no Ironman Brasil, aqui estou eu, no voo de retorno para Maceió, missão cumprida. Quando falavam que o mais difícil seriam os treinamentos e que a prova nada mais era que um longo treino de luxo, acompanhado por milhares de triatletas, era algo difícil de assimilar, pois não imaginava como meu corpo e minha mente se comportariam durante a prova, será que iria doer? Sentiria muita fome? Frio? Meu tendão de aquiles iria suportar tamanho esforço? Acredito que tenha feito uma excelente preparação física e mental, estava confiante! Sabia que iria terminar, porém, tudo pode acontecer. Acordamos cedo, eu e Renata logo nos encontramos no café da manhã do hotel com os outros amigos que lá também se hospedaram, nosso mentor da natação e por vezes ironman finisher, Junior foi no nosso carro, aquele papo de alguns minutos entre canasvieiras, onde nos hospedamos, até Jurerê foi muito bom, e me transmitiu uma confiança importante naquela madrugada gelada, o professor Junior sabe o que fala para seus atletas, afinal ele é o coach do meu coach, ou seja, quase meu avô! Na chegada ao clube doze de agosto, onde estavam a T1 e T2, não houve muito tempo de sobra, logo vistoriei a bicicleta, fui ao banheiro e vesti a roupa de borracha, sempre ao som de "O Rappa" no fone de ouvido, a trilha sonora que escutei durante todos os treinos de corrida da preparação, então as 6:30 da manhã me sentia mentalmente pronto! 
 Já na areia a turma de Maceió estava quase completa, Themis, Fabiano, Pedro, Kened, Helcio, Adilson, Iuri, Alexandre e Rodrigo, faltava apenas o nosso amigo Eduardo Bustamante, que largou do lado oposto ao nosso. A primeira perna da natação foi um pouco complicada, o "trânsito" era intenso, e como largamos atrás foi bem complicado de encaixar a natação com um grupo que nadasse no mesmo ritmo que eu, não que eu nade bem, longe disso, mas muitos nadavam ainda pior que eu, terminei a primeira perna com 38 minutos e retornei logo para a água, não tomei a água que a organização oferecia, sabia qur esta perna iria ser mais rápida, pois bem, nadei bem melhor a segunda perna, encaixei o nado e encontrei um grupo de mesmo ritmo e com boa navegação, passei pelo tapete com 1hora e 13 minutos, um pouco acima do que esperava, mas ainda dentro da minha expectativa, logo retirei óculo, touca e a parte de cima do wetuit, tinham vários staffs disponíveis eara tirar a roupa de borracha, de longe apontei o dedo para um deles e não perdeu tempo nenhum para puxa-la, quando a roupa saiu senti uma contração do músculo da coxa, acredito que muito por conta do frio. A primeira transição foi razoável, como fazia bastante frio em Floripa coloquei mais coisas do que deveria na sacola de ciclismo, então me confundi um pouco para achar as coisas, estimei fazer em cinco minutos, fiz em seis, sabia que a T2 seria mais rápida. Fui pedalar me sentindo muito bem, inteiro e feliz. Os primeiros 90km do ciclismo foram fantásticos, tentei não forçar, o vento ajudava e o clima estava perfeito, sol frio e o visual ajudavam, sabia que a segunda volta não era tão legal assim. Mas passei por Jurerê me sentindo muito bem, com uma boa parcial e ainda dentro da zona de conforto, muito focado na potência e tempo, para não perder hidratação e alimentação, sabia que qualquer descuido poderia ser decisivo ao final da prova, no km 113 tudo parecia ir por água abaixo, meu pad (apoio do cotovelo) quebrou, minha cabeça foi a mil, pensei várias vezes em parar e chamar o mecânico, etc...mas nunca em desistir da prova, pedalei por mais 67kms todo troncho na bicicleta, adeus bike fit! Tinha dividido o ciclismo em quatro partes de 45km, conseguindo as seguintes parciais de 1h 22m, 1h23m, 1h24m e 1h26m. Chegar até a T2 sem o pad foi uma vitória para mim, vibrei muito na Av. Búzios, fiz uma bela transição, com 3 minutos e saí para correr energizado mentalmente, o medo de sentir dores nas costas ou pescoço por conta da posição errada na bike passaria, estava bem! Ufa! E também muito a vontade na minha melhor modalidade, a corrida. Saí para correr junto com o Digão, usei a estratégia de manter o mesmo pace ao longo da maratona, qualquer coisa abaixo de 5min por km, pois saímos para correr com exatas 7 horas de prova, e uma maratona sub 4 traria de quebra um ironman sub 11 horas, fiz exatamente o que treinei, o mesmo ritmo, mesma hidratação, alimentação e técnica de corrida, tentei não me perturbar com o que acontecia ao redor, pois alguns corriam muito forte, outros mal andavam, havia momentos em que ninguém torcia, em outros lugares, como na Av. Búzios, a concentração de pessoas era gigantesca, era uma prova de altos e baixos, estava preparado para sofrer e logo no km 18 senti um enjoo muito grande, não conseguia tomar os géis, apenas Pepsi, foi então que encontrei o meu primo/compadre Filipe Mozart, que me disse para tomar gel, mesmo que aos poucos, pois iria ficar muito fraco, uma vez que já estava debilitado naquele momento. Costumo alternar gel com coca-cola nos treinos longos de corrida, e ainda tinha 3 géis que tratei de tomar ao longo dos kms restantes. Minha dor de estômago passou! Porém estava debilitado, e mantive o ritmo pensando em correr para sub 11 e sub 4 na maratona, pois nunca tinha corrido mais que 36km. Quando passei pela placa de km 38 senti uma energia extra e olhei para o relógio, percebi que daria tempo de chegar antes das 18 horas, aquilo me alimentou de uma força interior e levei "no peito e na raça" até a Av. Búzios, onde encontrei Filipe e perguntei se aquelas eram as luzes do pórtico, ele disse que sim e que faltavam 200 metros, dai pra frente é tudo muito rápido e eterno. Passando pelo pórtico levantei os braços e a cabeça, fechando a maratona em 3 horas e 52 minutos, e o ironman em 10 horas e 52 minutos! Objetivo alcançado e todas aquelas privações, o acidente e a morte do Alvaro vieram a tona, me levando as lágrimas, mesmo com toda a exaustão que sentia naquela noite muito fria no sul do país. 
   Agradeço a Deus por viver aquele momento mágico, a fé é fundamental, sem ela teria parado e dificilmente conseguiria correr novamente. Obrigado a minha esposa Renata, que foi minha maior incentivadora e parceira, obrigado a minha mãe por sempre me mostrar o caminho certo, da integridade e se esforçar para que eu nunca me tornasse um sedentário, a Academia Acquativ, pelo apoio, que por mais simples que seja, trouxe uma confiança e um sentimento positivo, com um prazer em nadar fabuloso, algo que parecia impossível em minha vida, Prof. Alvaro, Pedro Ivo e Jonatas! Valeu! 
Aos mestres Fabrizio Borsato e José Luiz da Silva Jr., que vivenciam o ironman como poucos, pensei muito nos seus ensinamentos durante a prova, confiei plenamente nos detalhes passados ao longo da preparação, e entendi o "por que" de vários pontos até então obscuros para mim. 
Não poderia deixar de agradecer a uma pessoa em especial, minha prima/irmã e comadre duas vezes Patricia Azevedo e seu esposo "o louco" Filipe Mozart, que me levaram para assistir o Ironman em 2012, dando início a esta "paixão" além de sempre me apoiar e incentivar, amo vocês! 
A todos os amigos de treino, Eduardo, Kened, Digão, Arthur, Hélio, Iuri, Adilson, Helcio, Pedro, Fabiano, Jonathan, Falcão, Rafael, Foguete, Muniz, Josemar, Peixoto, Elionai, Alex e ao grande prof. Krerley Oliveira, meu muito obrigado por aprender tanto com vocês!!! Lembranças eternas do nosso irmão Alvaro Vasconcelos Filho, pensei demais nele durante toda a prova, com certeza esteve conosco! 

Um abraço e até a próxima! 





sábado, 8 de fevereiro de 2014

Quinto elemento

 Era mais um treino longo, de um sábado qualquer que antecede ao Ironman Brasil, prova de triathlon que acontecerá em maio próximo, com 3.8km de natação, 180 km de ciclismo e 42.2 de corrida. Saímos de Maceió em quatro atletas, chovia um pouco, o sol ainda não dava sinais de que iria brilhar, mas chegamos sem sustos a AL101 Sul e encontramos outros amigos em treinamento e que enchiam o acostamento da rodovia, após 100 km resolvemos retornar a Maceió, pois já eram quase 8 da manhã e o treino estava chegando ao fim. Como éramos um pequeno pelotão de quatro atletas Fabrizio, Falcão, Josemar e por ultimo eu, após a ponte que divide o município de Marechal Deodoro com Maceió o pelotão foi desfeito e nos afastamos um dos outros, quando logo na primeira curva após a ponte notei que seria "trancado" por um caminhão carregado de açúcar, porém, para minha "sorte", algo ou alguém me fez criar forças para saltar da bicicleta em direção a parte de fora do acostamento, este era meu ultimo recurso! Não sei de onde tirei forças, pois, após 110 quilômetros de pedal, há um certo relaxamento com os fatores externos e distrações podem acontecer, fiz tanta força para me livrar da bicicleta que lesionei minha panturrilha no salto, deixando a bicicleta quase na linha de acostamento, bicicleta que em questão de milésimos de segundo virou um entulho de carbono sem utilidade alguma, totalmente quebrada após o pneu traseiro do caminhão ter passado sobre ela. Bom, não sei o nome que se dá a isso, mas acredito ter sido algo muito forte e que salvou a minha vida!!! Meio atordoado, percebi que o caminhão havia passado por cima de alguma coisa, ainda não sabia de que...notei que estava com braços, pernas e tronco sem ferimentos e logo me veio a sensação de alívio e agradecimento ao Pai Celeste e a todos que neste ou em outro mundo torcem pela minha saúde física e mental. Confesso que o risco de ciclistas nas estradas brasileiras não é baixo, nosso amigo Álvaro Vasconcelos é um exemplo disso, perdeu a vida após descer a mesma ponte, só que no sentido contrário. Não gosto de falar estas coisas em vão, mas não seria exagero em dizer que um quinto ciclista me empurrou da bicicleta. Quinto ciclista? Sim! Quem seria ? Não sei...mas foi alguém que estava tão veloz quanto nos quatro e tão forte que me jogou para fora das estatísticas de óbito nas violentas estradas deste País. Apesar do acontecido, continuo disposto a encarar o sonho de realizar o ironman, pois sobreviver sem grave lesão ou trauma me dá mais força de vontade em superar a ultima distância que ainda não percorri no triathlon. Vamos que vamos!!! Fé em Deus e pé na tábua!!!